Desde o nascimento de Louise Brown há 40 anos, as técnicas de Fertilização in Vitro se modificaram e melhoraram muito. A técnica de FIV convencional , até hoje utilizada não contemplava os casais em que a causa de infertilidade era masculina , mais precisamente pacientes com baixo número de espermatozoides móveis ou com azoospermia obstrutiva e não obstrutiva . As taxas de fertilização eram muito baixas e as taxas de implantação , gravidez e gestação menores ainda. Isso causava uma grande decepção para os casais e uma frustração para os médicos.No final dos anos 80 , início dos anos 90 uma nova técnica , conhecida como ICSI ( injeção intracitopalsmatica de espermatozoide no óvulo) , revolucionou e ampliou a utilização da reprodução assistida nos casais em que a infertilidade masculina era a causa principal.Mesmo assim , essa técnica , que consiste em injetar um único espermatozóide dentro do ooplasma do óvulo, era limitada aos casais em que existia a presença de espermatozóides tanto no ejaculado , quanto depois de uma punção de epidídimo ou testiculo , nos casos de azoospermia obstrutiva. Aqueles pacientes em que a causa da infertilidade era a azoospermia não obstrutiva e não se encontravam espermatozóides nas biópsias tinham como opção a doação de semen ou a adoção.
A azoospermia , é uma condição em que não se encontra espermatozóides no ejaculado , e pode ocorrer em 2% dos homens na população em geral , ela pode acometer entre 10 a 20% dos homens com problemas de infertilidade. Para os homens com azoospermia obstrutiva , se realiza um procedimento microcirurgico para a aspiração de espermatozóides no epidídimo e as taxas de gravidez seguidas da Injeção de espermatozóides do epidídimo é igual a taxa de gravidez seguida pela Injeção de espermatozóides do ejaculado. Entretanto, mais de 90% dos homens azoospermicos são diagnosticados como tendo a azoospermia não obstrutiva, e para esses homens a extração microtesticular (micro-tese) tem sido amplamente utilizado para obtenção de espermatozoides testiculares, em cerca de 60% dos casos. Quando nem espermatozóides nem espermatides de estagio tardio na espermatogenese são encontradas, esses homens eram considerados estéreis e aconselhados a considerar a utilização de semen de doador ou adoção. Com o intuito de oferecer a esses pacientes uma possibilidade de gerarem filhos com o seu material genético, desde o inicio da reprodução assistida , Edwards e seus colaboradores tinham a ideia de utilizar espermatides como substitutas aos espermatozóides. Alguns bebês nasceram dessa técnica no grupo de Tesarik , mas muito pouco foi relatado e como as taxas de fertilização e por conseguinte as de implantação e gravidez eram muito baixas , esse grupo praticamente “ desistiu” dessa nova técnica. Um grupo japonês liderado pelo dr Atsushi Tanaka no Hospital Saint Mother de Fukuoka, entretanto , vem utilizando essa técnica desde 2011 e até março de 2014 havia reportado o nascimento de 14 bebês . Até o presente momento 90 crianças nasceram graças a essa técnica no Japão.
A técnica de ROSI (em ingles round spermatid injection – Injeção de espermatide redonda), consiste em uma primeira etapa: a realização de uma microtese no paciente aonde se retira uma porção de túbulos seminiferos, separa-se os túbulos enzimáticamente para que se possa evidenciar a presença de espermatides redondas e faz-se o congelamento desse material para utilização posterior . Após a confirmação da presença de espermatides redonda ou espermatides alongadas o médico ira iniciar o protocolo de indução da ovulação para que os oócitos possam ser coletados e inseminados.A segunda parte dessa técnica consiste de descongelar o material da microtese , para que possamos injetar a espermatide redonda no oócito. Para que ocorra a fertilização é necessário a ativação do oocito que pode ocorrer pela aspiração rigorosa do ooplasma do oocito quando se injeta a espermatide redonda, por estimulação elétrica e estimulação quimica, ou uma combinação dessas 3 formas. Essa ativação é um componente essencial e um pré requisito para um desenvolvimento embrionário normal. A melhor ativação parece ser com estimulação elétrica. Essa estimulação elétrica ocorre alguns minutos antes de se realizar a Injeção da espermatide redonda (ROSI). As espermatides redondas são as menores células espermatogenicas no testiculo e podem ser facilmente diferenciadas das menores células sanguíneas os leucócitos. A chave para o sucesso dessa técnica parece estar, na seleção cuidadosa das espermatides redondas baseadas nas características físicas e morfológicas e na forma de ativação oocitária . Apesar das taxas de sucesso dessa técnica serem significativamente menores do que a técnica de ICSI , a ROSI parece ser uma alternativa aos homens azoospermicos para que possam ter sua descendência com suas características genéticas. Na busca de oferecer aos nossos pacientes técnicas novas e de ponta, em Fevereiro de 2018, a embriologista Ivana Rippel Hauer , esteve com o grupo japonês do Dr. Atsushi Tanaka e participou de um treinamento para que essa técnica pudesse ser oferecida aqui no Brasil. Desde março estamos introduzindo essa nova técnica e já foram realizados alguns procedimentos. A busca pela gravidez continua, assim como nossa esperança de que homens com essa causa de infertilidade possam ter a possibilidade de serem pais.